Foi realmente um fim de semana fora do
vulgar.
Este fim de semana fabuloso brotou da
oportunidade de convidarmos a Lara Rodrigues, mais especificamente o movimento WOOL,
para promover uma acção de arte urbana colaborativa em Torres Vedras.
Já Admiradores do trabalho da WOOL e
sobretudo das ações com um cariz comunitário e social, como a Lata 65, nasceu a
COOPER. ARTE. Fomos contagiados pelo talento e pela faceta humana da Lara,
Pedro, Elisabet e o pequeno Daniel :) . De um par
de conversas e e-mails trocados lá fomos fintando as burocracias incontornáveis
para acções deste tipo, mantendo a persistência e resiliência até ao dia D.
Agradecemos à REFER e Câmara Municipal pelo incentivo e autorizações.
Como somos um grupo de profissionais
independentes e empresas que se encontram a iniciar a sua atividade, ou mesmo
algumas que persistem e querem crescer, quisemos lançar o debate sobre a
importância das paixões, sonhos de criança, vocações, experiências e aspirações
profissionais. Quisemos fazê-lo de forma diferente e com a possibilidade de
fazê-lo com a comunidade, com pessoas resilientes mas também com importantes
desafios sociais, onde a troca de experiências e a aprendizagem colaborativa
pudessem estar bem presente e fizessem bem a todos!
Convidámos assim um grupo de crianças e
jovens do Centro de Intervenção Comunitária de Boavista de Olheiros e um grupo
de seniores de diferentes freguesias do concelho, que fazem parte do programa
Clube Sénior, promovido pela Câmara Municipal de Torres Vedras.
Chegado o dia D, (30 de Novembro) ninguém
sabia muito bem para o que vinha, apenas que o mote era a arte urbana, isto é
pintar o muro devoluto com latas irreverentes para fazer qualquer coisa.
Uns mais envergonhados do que outros,
entraram pela Cooperativa Cowork adentro, esgrimindo o frio e inércia bem
típica de fim de semana, mostrando desde logo que se tratavam de pessoas
extraordinárias. Todos eles
com olhares em estreia vieram com os seus petiscos caseiros, pensando com
certeza que a fome poderia apertar no meio de tanta pintura :).
Ressaltou desde logo o enorme contraste de
gerações, onde o mais velho devia rondar talvez os 80 anos e o mais novo talvez
os 8 anos. Enquanto esperavam pelo início da atividade, uns jogavam ping-pong,
fizeram puzzles e outros juntaram-se à volta do calorífico como se de uma
pequena fogueira se tratasse. Todos esperavam por aquilo que ninguém sabia bem
o que era, mas ali estavam com uma animação e calhandrice saudável.
No início das formalidades, apresentação dos
fantásticos projetos da Wool, houve esgares de estranheza, expressões de
admiração dos diferentes trabalhos de artistas urbanos nacionais e
internacionais.
No debate colaborativo, surgiram histórias de
trabalho, sonhos da pequenada do futuro como adultos e desejo dos mais velhos
em ter novos desejos que os aproximem cada vez mais daquilo que gostam desde
sempre e que nem sempre tiveram a oportunidade de experimentar.
“Eu quero ser bombeiro quando crescer”
“E eu gostava de ainda poder ser cozinheira,
à séria!” :)
(Tocou-me a partilha de conhecimento, o fato
de nos meus 32 anos confidenciar o meu desejo de aprender a fazer pão num
verdadeiro forno de lenha, e mais do que um Google avançado tive proposta de
ensino doméstico, com direito a receita manuscrita com os truques de quem
realmente sabe)
Todos estes desejos foram a seguir lançados
para a folha branca, na exploração das suas ideias gráficas, onde apenas uma
regra existia: “Não vale dizer que não sei desenhar ou que não tenho jeito para
isto!”. Para alguns foi mais difícil do que outros, mas cada um a seu ritmo,
com diferentes esboços, chegaram a desenhos lindos.
Aviões, Sereias, Cabras, Tractores, Planetas,
Carro dos Bombeiros, Flores e mais Flores, Robots, Casas de Família, Corações e
mais Corações. Tanta diversidade quantas pessoas…
Como reais artistas que são, o grande grupo
passou para a exploração de alguns desenhos, para o recorte e realização de
moldes, abordando a técnica do stencil.
Todos fervilhavam de impaciência para saltar
para a rua e colocar a “mão na massa”! Neste primeiro dia houve ainda tempo de
brincar com toda a paleta de arco-íris. Velhos e novos, com máscaras e luvas em
punho brincaram como se não houvesse manhã. Mensagens de amor, mensagens
políticas, jogos do galo, rubricas e assinaturas. E todos utilizaram os seus
preciosos stencils em modo repeat. Tudo foi mote para brincar com as cores e latas.
Apesar da preocupação com este caos inicial houve real divertimento e
colaboração.
Um dos responsáveis por existir esta brincadeira
foi a loja CARSPORTIF, que patrocinou as latas coloridas. Uma loja de referência em Torres Vedras, já habituada a incentivar a arte e o artistas urbanos, em terras Torreenses. Um grande obrigado por serem parceiros, e um bem haja à disponibilidade de serem promotores de momentos que valem mesmo a pena !!
Para quem não sabia e passava, opinava críticas
de desconhecimento, ou ficavam mesmo parados a olhar para a contagiante descontracção
e sorriso na boca de todos, velhos e novos.
No dia 2 D, foi fácil o encontro de novo. As
vergonhas ficaram em casa e a arte de todos funcionou como um elo e um
acelerador das relações :).
Na busca da mensagem a deixar no muro, surgiram
desejos de paz no mundo, o fim da guerra e desemprego, desejos globais, etc… que
depois de enorme brainstorming, se resumiram aos desejos para a nossa
comunidade. “Valorizem-se as aldeias”, dizia alguém. Surge Torres Vedras como
foco, não a cidade mas sim o concelho. E em conjunto surge a mensagem sincera
de SONHA TORRES VEDRAS VIVE.
Com satisfação todos recortaram as letras
fielmente desenhadas pelos profissionais. No muro, com as latas adormecidas,
foi um trabalho mais árduo de precisão que seguiu, com rolos e pincéis bem
carregados de branco celestial.
Com casacos, cabelos, dedos e narizes (quase)
pintados, ninguém arredou pé até a obra ficar terminada.
Tirámos uma fotografia de grupo em êxtase,
como se tivéssemos mudado o mundo :)!
Agora aquele muro nunca mais será o mesmo e
nós também não.
Tenho o prazer de todos os dias que lá passo,
encontrar vestígios do meu gato. Passo os olhos por todas as pinturas para lá
chegar. Só vejo a cauda, mas não me importo porque todos que participaram têm
um bocadinho lá, e há realmente espaço para todos!
Esta é o presente de Natal de alguns Torrienses
para a cidade de Torres.
Rita Pinheiro, Cooperativa Cowork