segunda-feira, 31 de março de 2014

Era uma vez... A Vassoura


Saída do Instituto Superior das Vassouras, com uma grande bagagem de saber, foi formada e doutrinada, nas técnicas mais especializadas de Varredora. Era exímia no seu ofício! Com notas destacadas no Varrer de superfícies mais intragáveis e sujas, não havia poeira que ela não despachasse. 



Estagiou dentro e fora, varreu pavilhões nacionais assim como ruas internacionais. Fez voluntariado e erasvassouras pela Europa fora. Foi marcando os sítios por onde passou, mas sempre se debatendo com a vontade de Varrer e fazer muito mais...

À noite pensava: "fogo… eu na minha condição de Vassoura podia fazer tanto mais do que Varrer... Servia tão bem para exterminar as teias de aranha que se metem nos cantos incómodos; podia servir para fazer par de dança para os solteiros abandonados; podia limpar chaminés ou até mesmo servir para coçar as costas..."

( O que é que podias fazer com uma vassoura? )



Num belo dia, ao levantar, a Vassoura pensou para os seus botões: "É hoje que vou mudar a minha vida! Tenho de melhorar o meu ofício!". E assim, começou a realizar os seus biscates, essencialmente programando e preparando o seu negócio em CASA. As ideias inicialmente eram mil, mas haviam tantas alturas em que a casa da Vassoura convidava a tudo menos trabalhar. 

Deixou de existir tempo. Ele existia mas era aleatório, tudo servia para perder o foco e prevaricar. Antes de responder aos e-mails, fazer os telefonemas e fazer prospecção de mercado, a Vassoura lembrava-se que tinha frigorífico vazio, que ia dar aquela série na televisão... O tempo era perdido e a desorganização era mesmo total. 



O pior mesmo, é que a produtividade era mais que pouca… e a falta de estímulo, de conselhos e dicas, de PESSOAS faziam a vassoura ficar claramente desvassourada (deprimida na linguagem das Vassouras).

A Vassoura ainda tentava sair para se inspirar. Procurou o café mais porreiro do bairro, onde bem intencionada levava o seu PC e bagagem de saber para realizar todas as tasks a que se propunha. O café era simpático, mas era um mundo de riscos e imprevistos. Vejam lá se conseguem imaginar…a Vassoura bem instalada, ligada ao net point do café, começa a ouvir o barulho da máquina de café, como se fosse um metrónomo! TCHCA TCHCA BRUUUUUUM!! Lá se conseguiu focar e um instante depois ouve a conversa zangada da mãe da mesa do lado "Não tarda levas uma palmada, já te disse que chega de doces!!" E o puto desata num pranto "Mas ohhhhh mãe euuuu querooooo!! BAHHHHHH!! "



A Vassoura, guerreira e inabalável , ainda tentou mais um pouco concluir o email urgente do dia, mas foi arrebatada por um grupo de velhotes que jogavam à bisca, e lançavam com toda a gana a carta na mesa ouvindo-se TRÁSSSSSS PÁS!!

A Vassoura, completamente desvassourada corre como se fosse o ultimo dia da sua vida, com desânimo e lágrimas de vassoura e disse "BASTA! Assim não consigo vassourar! Estou a perder o meu tempo!"

À saída do café, a vassoura esbarrou com outra vassoura amiga, que vinha revigorada, cheia de boas energias. Com dois cabos de conversa, ela contou-lhe que trabalha aí num sítio, que não é em casa. Anda lá com maleta nova e até já arranjou uns trabalhinhos à pala disso!

"Onde é?", pergunta a nossa Vassoura.

"Fica ali entre a Farmácia Calquinha e o Tina Automóveis."


Eram só pensamentos de medo na cabeça da vassoura: “O que é que eu vou fazer num espaço cheio de pessoal que não conheço?”, “ Trabalhar com gente que não sabe o que é varrer?", “ E se... eu não gostar?
Ainda com um saco cheio de incertezas e inseguranças a Vassoura lá mergulhou no desafio de conhecer um espaço cowork. Acordou nesse dia antes do despertador, vestiu a roupa de vassoura e lá foi à procura desse lugar, que era ainda um grande ponto de interrogação.

Ao chegar depara-se com a frase: 



REVOLUCIONA A TUA FORMA DE TRABALHAR!

E pensou: "É mesmo disso que eu preciso!".


Finalmente a vassoura encontra um espaço que parecia oferecer tudo o que ela procurava: um espaço com profissionais de diferentes áreas, independentes, que estão a iniciar as suas empresas, um posto de trabalho interessante e económico, internet e outros serviços disponíveis, troca de ideias, sinergia crescimento profissional, dinamismo, criatividade…

Pareceu-lhe agradável mas estranho também, pessoal em open space a trabalhar no seu posto de trabalho. Teve sorrisos e um acolhimento porreiro… Ao início fazia alguma comichão o entra e sai do pessoal… contudo depressa saiu da bolha, quando docemente e de forma natural o pessoal foi perguntando por si e pelos seus saberes…



Estava mais disciplinada, com os horários e goals tasks e começou a sentir maior produtividade…

Naquela mesma semana, experimentou bolo de sardinha e jogou ping-pong nos time-outs, participou num recrutamento para os States, através de uma profissional que realizava trabalho remoto por ali. 

Desenvolveu ideias de negócio e de marketing, nos momentos de pequeno almoço e conversas informais. Conheceu piassabas, vassouretas, vassouronas, vassouritas, todas elas inspiradoras…. 

Conheceu diversos projectos, onde tudo era possível. A Vassoura percebeu claramente que varrer era só início da sua história…!



Fez contactos profissionais, lançou site através de plataforma gratuita, arranjou contacto de designer, seguros, contabilista, webmaster….e começou sobretudo oferecer os seus serviços, de uma forma bem mais consistente. Teve dicas para melhorar a sua imagem e comprou um Keep cup, para beber o seu café de uma forma mais amiga do ambiente…

Neste processo, foi criando amizades, mas sobretudo recursos e redes de contactos…

Continuou a acordar todos os dias antes do despertador. Sabia que o próximo passo era mesmo aprender a voar…para dar mobilidade a todas as bruxinhas endiabradas que por aí andam…


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